quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

[Ora...Iê-Iê-Io]

Ora...Iê-Iê-Io

Então, nos primórdios dos tempos quando Orixás e humanos conviviam juntos no Orum, tudo era uma só dança. A dança do amor - A dança de Oxum. Oxum e Yemanjá são os Orixás mais belos. Algumas lendas dizem que Oxum é filha de Yemanjá com Orunmiláia. Uma lenda que pode nos explicar que Oxum herdou de sua mãe a beleza, a fecundidade, a meia lua, as conchas do rio e do mar.

Oxum no seu quarto e suas vaidades. Oxum aprecia sua beleza olhando em seus espelhos feitos de conchas polidas. Oxum admira seus seios em formato de montes, admira suas curvas desenhadas como de uma frondosa árvore, admira seu sexo que tem o calor e a luz do sol. Oxum está em oração, porque ao se admirar, faz uma oração de si mesmo.

Ela é doce. Ora-iê-iê-io. Servi-se de canjica amarela, polenta, ou farinha de milho com mel. Agrada-se de lírios, rosas amarelas, flor de laranjeira, até mesmo margaridas. Oxum ama o que brilha, o dourado, aquilo que os olhos enxergam e se sentem atraídos. Ora-iê-iê-io.

Olorum que em certos dias que são noites e em certas noites que são dia escuta mudo, fez sua voz levantar-se sobre o que é nada e aquilo que é tudo e impôs silêncio:

- Do que tanto se enfrentam? Do que temem? Porque guardam tantos caprichos? O que mais podem desejar que não encontrem em Olorum?

Todos os Orixás ficaram boquiabertos, pois Olorum não alterava a voz. A verdade é que Olorum não tinha alterado a sua voz, era o coração dos Orixás que então tinham se posto a escutar e anteriormente com tanto barulho todos aparentavam falar muito baixo, mesmo em altos berros.

Os Orixás reclamavam de Oxum, que ela passava todo tempo apurando sua beleza, que não saía do rio cuidando de sua pele, a lavar os seus cabelos, a transformar pedras brutas em maravilhosos otás.

Olorum voltou-se para Oxum e pediu para que se se pronuncia.

Oxum então pronunciou-se:

Grande Olorum o meu amor pela beleza não é um capricho. Descobrindo-me, posso descobrir o belo que há em todas as coisas. Quando me penteio, perfumo-me ou transformo o bruto em arte é bondade. Confesso que creio que Olorum deseja que sua criação permaneça tão bela como originalmente nos fez. Sempre atrás da fartura e da abundância esquecem que Olorum dotou cada um de grande tesouro interior.

Oxum era linda e era bondosa. Com as contas que cobriam seu rosto, que só era podido ver quando voavam com o vento, daí então apresentava-se toda a sua formosura. Ela se enchia de graça ao prazer de um amor que fora fecundado de dentro para fora.

Neste momento Olorum sentenciou:

Trazes a beleza naturalmente dentro de ti. Proporcionarei então que olhes por isso. Que o belo seja sempre uma magia, um encantamento, um sonhar. Que o belo nunca tenha certeza, prontidão, exatidão, assim sendo ninguém poderá também ter a certeza, a prontidão e a exatidão do que é feio. E é sobre isso que rezará o teu tesouro, a tua fecundidade, o teu doce e o teu mel. Aquele que se descobrir sem medo, sem receio e sem inveja, verá a abundância no seu caminho. Aquele que olhar no espelho de Oxum com verdade então viverá o prazer do amor. Também te consentirei o ventre que está em gestação, o menino e a menina, a semente, porque te concederei proteger tudo que deseja dar luz. Porque luz é a minha matéria mais pura de beleza.

Em homengem a mãe Oxum. Orixá que governará 2011.

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

[anjos]

Estavam todos naquela roda de capoeira. Não se distinguia meninos, homens, meninas ou mulheres. A cidade estava aos seus pés e eles dançavam suas acrobacias que se misturavam a sua luta e nas suas canções chamavam seus orixás. Ninguém rezava, não existia um Deus senhor de todas as coisas e a felicidade estava no sorriso. Uma riqueza de todos. De todos porque não tinha como se buscar lá fora, vinha lá de dentro.


Os mestres eram mestres porque continham magia e os discípulos eram discípulos porque queriam conter a magia. É preciso aprender a jogar com a magia. Magia por magia é sedução e sedução é feitiçaria. O carinho pode ser maior que esse mundo. Quando o carinho é maior que esse mundo a língua falada é a língua do amor.

Tinha a menina gordinha, tinha aquele muito pequeno que talvez não tenha crescido por falta do alimento correto, tinha aquele outro cheio de charme e ainda eles davam mortais mostrando sua imortalidade luminosa. E mais surpreendente foi quando o anjo que não falava, oriundo do mundo dos autistas se confundia com os outros anjos. Não há estranhos na natureza do bem. Há olhos com portas abertas. São os olhos sem comunhão que fecham as portas.

No convite, o local do BATISMO era o Morro da Cruz, dia 04 de agosto de 2008, às 15 horas. Com certeza o paraíso pode ter tantas e quantas denominações desejarmos. Quando entregamos o mundo para os ANJOS, logo eles vão dando um jeito de fazer ARTE na vida.

[ao leite]

O chocolate é como o amor, estimula o hipotálamo, induzindo sensações prazerosas e elevando o nível de serotonina. Mas não é apenas isso, o chocolate é como o amor, porque no verão fica mais derretido e no inverno os dentes mais frágeis se acovardam em mordê-lo.
As amadas passam na rua sorridente, os homens mal amados nunca passam do segundo copo sem se embriagarem. Mulheres a noite, quando a cama de casal mesmo confortável , fica desconfortável, vão na cozinha e na segunda prateleira se encontram com seu amor secreto. Os homens solitários sempre têm bombons para oferecerem. Seu amor é como gangorra em praça, um brinquedo que só tem graça quando feito a dois.
Quando inicia, taças de vinho derramadas mancham o tapete branco da sala. Quando acaba, o sol se despede da lua, o doce agora se transforma em despedida. Os grãos de cacau torrados sem adição de leite. O amargo de ir embora. O amargo sem passaporte. Há o amor amargo, sem adição de carinhos e fragmentos que se espalham pelo espelho de desconhecidos. O amor pode ser uma barra de chocolate amargo.
Um amor recheado de sonhos. Um amor que se inicia ali na varanda e vai até nós dois de mãos dadas e bem velhinhos. Um amor que surpreenda, que leia poemas para dormir, que faça o café para amanhecer. Um amor lindo de jeans, um amor lindo de prataporter, um amor de linho. Um amor que converse sobre ter filhos, sobre os filhos, sobre não ter filhos. Um amor que tenha sexo, mas tenha diálogo. Que tenha religião, fé um no outro. Chocolate por dentro com amêndoa ou avelã, cereja ou amoras, morango ou frutas silvestres, licores. Um amor com recheio : venha e me faça feliz, venha e te farei feliz.
A couverture é o chocolate rico em manteiga de cacau, utilizados pelos profissionais chocolateiros. Gueixa são mulheres que estudam a tradição milenar da arte da sedução, dança e canto. As estrelas como lençol e a rede. Os bibs e aquele instante silencioso eterno após o primeiro beijo. Abra a janela ao invés de acender a luz. Veja ao invés de fotografar. Coloque os pés na grama e descanse os sapatos. O que vai para a escola é a mente e não o coração.
Tabletes, gotas e barras. Um amor ao leite que seja deleite. Convencional e até mesmo tão igual a tantos iguais. Até marcado com o gosto do hábito, mas com o deleite de ver que irá viajar, mas me levará no cheiro de suas roupas. Deleite de passar os dedos nos lábios e os lábios em deleite guardará os dedos no céu – da boca. Deleite pelo amor confesso no cotidiano de fazer planos. Planos de quem lavará a louça do jantar, de quem fará o café e a salada, de quem deixará as crianças no colégio, do apartamento para poderem casar sem papel passado, da conta de água e da de luz, da escova de dente, das toalhas xadrezes ou lisas. Deleite e ao leite do amor que sofre barras, gotas de lágrimas e algumas vezes quase se esfrangalha em tabletes, mas como num milagre o que era dor, basta um abraço forte, verdadeiro, carinhoso e para o amor mais uma vez ser amor.
A páscoa e suas cestas que são ninhos recheados de amor com chocolate ou chocolate com amor. Margarita disse enquanto tomava café que os coelhos são cupidos. Ainda existe gente que se apaixona.

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

[aniversário]

Quase chego tarde para festa. Uma bebida? Aceito. Veja-me um café bem forte ou um chimarrão. A cerveja você bebe que eu aprecio. Mil folhas, festa sem mil folhas é aniversário de criança. Música? Hoje, mas apenas hoje, me permitirei a ouvir Zeca Baleiro. Vou ficar bem quietinho para que possas filosofar o quanto desejares. Depois damos uma volta de bicicleta para que Sócrates não deixe seus fantasmas na piscina.


Sonho? Parabéns e muitas felicidades.

[altar]

Queria se casar com ela. Usar a mesma pasta de dente, dividir a escova, secar-se na mesma toalha. Queria partir com ela para a mesma casa. Ouvir seus sonhos, dormir com seus pesadelos e pela manhã, vê-la maquiando os olhos que escolheu para amar.


O vento tem composto a vida dele de ausência. A cama era só cama dele, a casa grande era solitária e as viagens ele compartilhava com as aeromoças, trocava idéias com os recepcionistas de hotéis e a pele era uma rosa desfolhada. Não se embriagava, mas seria melhor. Não contratava prostitutas, mas seria melhor. Não se lamentava, mas seria melhor.

Naquele dia em que eles se encontraram, ela não levou nada daquilo muito a sério. A primeira impressão que teve dele foi de um homem muito disputado, um sucesso nas palavras e um doce que poderia ser dela, mas estaria sempre no balcão da padaria para quem mais desejasse. Não deveria se iludir com esses pequenos galanteios, não que os dele fossem do tipo encomendados ou frases prontas, muito pelo contrário, eram originais e lhe faziam sentir calor. Mas esse calor já tinha lhe dado, numa idade pouco mais que adolescente, um filho lindo. Agora era mulher e mais que uma paixão imensa, uma música na memória, um canto de recordação e velas, e declarações, merecia não ser mais dilacerada.

Entregou a vida para os arredores de Oxum. Andou em guerra com a justiça de Xango e brigou com os mares de Yemanjá. Cravou a espada de Yansã em seu coração para impressionar os deuses. Roubou o cavalo de Ogum para galopar dentro dos sonhos dela.

Naquele sábado de sol que está com a razão e que queima nossos males que nem se sabe onde se apronta, ele se apaixonava com crianças entre 8 a 10 anos, ensinando elas a plantarem essas coisas tipo alface, temperinho verde ou outras plantas medicinais, destas que tem substâncias terapêuticas como a abobora, agrião, alecrim. Ela veio de lá e encostou seu corpo bem juntinho do dele naquele altar. Momentaneamente ele se assustou, mas em seguida deixou que o calor tomasse conta do frio. Ela lhe disse que nunca tinha lhe falado que gostava de crianças. Ele lhe respondeu que ela nunca tinha lhe dado oportunidade.