quarta-feira, 27 de outubro de 2010

"passarinho na gaiola não ama"





A palavra amor antecede a palavra - platônico. Sendo assim, antes de nos


perguntarmos sobre o Platônico deveríamos querer saber o que vem a ser o amor.

Passaríamos divagando e divagando, ferindo aqui, tirando lasca dali e permaneceríamos descontentes com nossas teses. Desta forma é bom ficar com a idéia de uma velha senhora que trabalhou em casa: - amor é quando a gente gosta e quanto mais nos faz bem, mais é amor e se nos faz mal, não é amor.

Vendo assim a grande gaiola do Amor Platônico não é saber se é ou não amor, pois ele é amor. A gaiola é que dá uma tremenda solidão, uma tremenda tristeza. É uma tremenda amargura. É uma tremenda perda de tempo. Tudo é tremendamente vazio.

"rios"



Os rios, os nossos rios estão estressados. Esses que correm fora de nós e esses que correm dentro de nós. A pergunta é que curso estamos tomando? E já não temos resposta para isso.

Temos que achar as planícies de decantação.




Sander Machado e Bledow.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

"esconderijo"




Era um gosto de sal na boca. Boca que não vinha do mar, que não era da noite. O olhar perdido da sereia. Sereia que não tinha história e montado no cavalo marinho cavalgava para nenhum lugar a procura de algo que as lentes dos óculos por mais garrafais não lhe ajudavam em nada. Descobrir que o mapa pode estar errado também é cartografia. A lagartixa fica exatamente igual às superfícies que ela transita. Os olhos quando não encontram o que desejam ficam com a cor do desencontro. Uma tonalidade tipo gelo. É muito arriscado que esse gelo se encarregue das perguntas da alma, uma alma gelada faz perguntas, mas as respostas entram por um ouvido e saem pelo outro.

Metido em suas fantasias essa era só outra lâmpada que em seguida ia se apagar. Mais alguma coisa paralela, alguma caneca de café de inverno, um pequeno papel que se estendia e era lençol de mais uma noite que as estrelas não saíram e a barragem deu vazão para a chuva. Um ponto de fuga ou ponto príncipe, um teatro. A dança sem bailarina combinava com a gramática que escreve correto, mas não faz a palavra certa ser o verso.

Sabe-se lá o que acontece em outro horizonte? O que os japoneses ficam pensando quando os ocidentais romanticamente comem sushi. Sabe-se lá da roupa que andará na festa sem nada para comemorar? Do corpo ausente que está presente. Sabe-se lá porque alguns escrevem e outros choram? Ou porque alguns choram daquilo que alguns escrevem? O relógio de algumas coisas tem o ponteiro universal e telepatia não é confissão.

Confissão senta-se à mesa, fica sem jeito, algumas pedem mais uma dose e outras se mantêm sóbrias e serenas. Confissão joga tudo pra cima, usa pseudônimo e numa altura do campeonato descobre que só se ganha ou se perde o jogo quando o dedo aperta a campainha. Confissão se tortura no desejo e quando o desejo já é tortura bate com a língua nos dentes.

A pipa do menino multicor a voar pelo céu. Os pensamentos são como pipa, nem sempre multicor, mas se faz belas fotografias em preto e branco. Antes de guardar na memória, os pensamentos podem estar nos lábios. A tantos pensamentos que andam nesse mundo de Deus e tinham tudo para se beijar, mas pronto, outro pensamento mais forte, tipo isso não vai dar em nada, colocou tudo a perder. Os pensamentos frágeis são delicados. É muito mais que se exceder no perfume, é quebrar o frasco. Não há como colar aromas, como não há como colar pensamentos. Espatifados... Espatifados.

Os dois ladrões, o da esquerda dos sentimentos e o da direita do juízo brigavam entre si e honestamente, o pedido é que ficou perdido no compasso da espera. Se não há mais o que dizer talvez um silêncio seja a palavra. O silêncio não tem endereço, ao mesmo tempo em que é carta, é imagem surda que escorre água, mas não dá de beber.