quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Ce-se

Então tinha aquelas coisas ali. O ir e o ter que voltar. O voltar e não saber quando mais ir.


O Verão mal chegou. A menina esse ano não foi para praia, adoeceu terrivelmente, está com câncer de mama. É um engano pensar que as pessoas terão que envelhecer para caírem de cama. A quimioterapia trouxe enjôos. Ela que tanto relutou em engravidar por causa dos enjôos.


O avião. Quase 45 minutos aguardando a conexão. Entra nesse portão sai naquele. Revista desse lado, revista daquele. Um aperto no coração. Chegar e vê-lo. Partir e ter quem espere por nós. Chegar e sentir o coração aquecido.

O seu abraço é uma certeza de felicidade. O seu sorriso é o próprio mar. “Errante”, mas por ele regressar é carinhoso. Há tantos detalhes que escapam ao nosso olhar. Há tantas coisas que deixamos fugir.


Prometa-me que amarás profundamente os detalhes. Os detalhes dos que crescem ao seu redor, os detalhes dos que falam poemas com palavras do cotidiano ao seu redor, os detalhes dos que se encabulam, dos que sorriem, dos que presenteiam, dos que se emocionam. Os detalhes dele me esperando aos seus 7 anos, ansioso, como se pudesse ir e deixá-lo.

O mundo é dos que sonham, para os que vivem sempre acordados resta a fadiga. Lave a louça com carinho, faça um café com carinho, vá correr na Lagoa com carinho, abrace o ano com carinho. Ipanema é linda, mas lindo mesmo é estar com eles. Jure-me que vai fazer dos seus encontros eternos.

Jure-me que vai pensar nisso. Vai pensar que por algum motivo possa passar muito tempo sem ver aquela que dançou com você, aquele que foi ver o por-do-sol, aquela que tomou uma água de coco, aquele que lhe beijou, aquela que abriu a porta da geladeira, aquele que deu conta do último pedaço do pudim. Jure-me que nunca mais vai pensar que amanhã tem mais, porque amanhã pode demorar tanto tempo. E o tempo é um sujeito muito estranho, quanto mais rápido queremos que ele passe, mais teimosamente ele insiste em ser devagar.

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