A estrela menor pergunta para a maior o que fazem eles
sentados olhando para nós se estamos tão distantes? Ficam sonhando responde.
Os namorados diante da estrela mais próxima, a Centauri, que
está a 4,2 anos luz, faz juras eternas. Centauri de olhos bem abertos atenta ao
pedido pequeno como arranjar um emprego, passar no vestibular, comprar a casa
própria ou até mesmo que no próximo fim-de-semana não chova. Centauri vai
mandando um piscar de olhos aqui e outro ali. Uma beleza para cá e outra para
lá. E em algum lugar da terra surge uma canção tão bonita que mesmo os
desafinados cantam ela com harmonia. Quando os pedidos parecem impossíveis
dizem que o trabalho fica mesmo para a Alpha Orionis, a maior de todas elas.
Alpha Orionis é muito séria, filosófica e como conta Vênus
elege para si a dor do mundo. Aquele que se senta e chora pelo filho que virou
estrela, pelo câncer que não tem volta, pelo soldado que está na guerra, pela
criança que não se alimenta, por aquele que folheia os livros e não lê por não
ter ido à escola. Quando Alpha Orionis recebe muitos pedidos para que os homens
compartilhem a abundância, aumentem a benevolência, sejam mais amáveis e
justos, tenham mais fé e luz. Estes pedidos que aparecem muito no Natal, então
a gigante desaba e chove. A chuva lava a dor.
Mas é mesmo a Sirius, que possui um brilho 26 vezes maior do
que o Sol, que coleciona as mais extravagantes e peculiares tarefas. A tarefa
de trazer o filho que sumiu de casa, de fazer a dieta dar certo, de tornar a tentativa
em uma gravidez. Nos ouvidos de Sirius está à vontade do verdureiro de se
tornar dono do seu próprio supermercado, do artista fazer seu best seller, de
fechar o negócio, de salvar o casamento, de parar de fumar, de dar fim aquele
efeito sanfona, de acertar na mega sena, do time ser campeão, de ouvir um
milhão de confissões de amigos bem embaixo de seu nariz e guardar segredo. Gani
medes, Titan, Phobos, Sinope e Sharon adoram uma fofoca, os satélites têm
língua de trapo. Não há o que escutem que não queiram imediatamente colocar na
boca do universo.
Sirius está sempre alegre e radiante para o poeta, quer que
sua arte continue fazendo pessoas apaixonadas. Para atriz e para o ator – quer
que mesmo com casa vazia, vazio seria o mundo sem um tablado. Para o pintor –
quer que mesmo não tendo conseguido um Vernissage em Galeria e vinho branco,
permaneça pintando um arco-íris no caderno da menina que vai para o seu
primeiro dia de aula. Para o músico – quer que reduza com suas cordas essa
corda no pescoço que vivemos.
Nas cidades grandes não dá para ver muitas estrelas. A luz
artificial vinda dos outdoors, dos back lights, dos front lights, das vitrines,
dos automóveis, dos prédios faraônicos, dos poste, desse medo de sentar na
calçada e olhar para cima, ofuscam o nosso sonhar.
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