quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

pilequinho



                  Levantou com a voz muito jocosa. De saída a empregada se deu por conta e foi fazendo comentários de que a língua estava colada no céu da boca. Foi falando de tal goma arábica que insetos deixavam em quem dormia de boca aberta. 
                  Que goma nada. Parecia mais estar de pilequinho. Não tinha ido há nenhuma festa, mas naquela manhã tinha a sensação de estar de ressaca. Ressaca dos que tinham ido e não tinham a levado. Ressaca do dia anterior que viu seus móveis saírem da casa que morou mais de 20 anos. No dia anterior mostrou o álbum de fotografia para a empregada, junto com mais de uma dúzia de histórias e recordações. Eles não entendiam a sua ressaca. As dores e reclamações que iam bem além de uma osteoporose e a birra da geladeira dentro do quarto novo, para que tivesse pequenos caprichos.
                  Mais à tardinha daquele dia, a ressaca foi tão grande que o telefone dele tocou avisando que ela tinha tido um acidente cardiovascular. O seu coração ficou de pilequinho de tanta dor. Por um momento, que Deus não a deixe mentir, pensou que tinha chegado a sua hora. Mas felizmente ficou apenas com uma pequena embriaguez com as palavras - alegres e tristes. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário