quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Amada.

Cabe a ela dizer a quem dará o seu amor. Eles estão todos ali na volta, em suplicas, a namorando, a seduzindo, desejando-a: parada no centro observa-os. Corre para cá, se esquiva para lá, salta, vai. Todos, sem exceção, estão angustiados para ter com ela momentos de intimidade.


Regras? Nada de regras. A ela só cabe o prazer. Ela quer saber quem lhe dará mais prazer. As regras foram inventadas por eles. Eles que decidiram por não beber, eles que brigarão entre si, eles que acusarão de uns terem ultrapassado os limites dos outros, eles que sentirão dor, castigo e falta.

Ela deseja que eles se aproximem com carinho, mas também apreciará os que são menos habilidosos e mais fortes. Ela ama os fortes, os retranqueiros, os defensores. É parte da sua natureza selvagem. Ela ama mesmo o afeto, as carícias, o apego. Nesse sentido, ganhará sua cumplicidade quem amá-la usando a cabeça. Também lhe agradará ser acolhida no peito e ficará encantada com os que souberem dançar. Ela gosta da dança, o ballet lhe faz feliz. Mas, não é só o que conta. É um engano pensar que é tonta, é boba, enfim, ela não dá pelota pra qualquer um.

Confesso também acreditar, como outros tantos, ser ela feita de muito mistério. Talvez o que torne muitas das suas atitudes incompreensíveis. Uma caixinha de surpresas. Não estaria mentindo ao dizer que qualquer previsão de como agirá no próximo lance é no mínimo uma blasfêmia. Julga com o seu olhar e não com o olhar deles, já tão viciado pelas injustiças.

Para ela não há bons e ruins, foram eles que criaram isso. Entre mais afortunados e menos afortunados, não há distinção. Lidar com seus caprichos, sua beleza, seu humor hora trágico e hora cômico é o que realmente está em jogo, no jogo dela. Por isso não torce por nenhum deles. Solitária torce apenas por si mesmo.

O homem que outrora sempre se vestia de preto não faz o tipo dela. Ele a faz pensativa e racional, como eles. Ele a angustia. Uma angustia que se reproduz com maior intensidade, porque ele chama atenção deles, castiga-os e até mesmo tem o poder de mandar embora os mais eufóricos e ela admira esse tipo de homem. Os que o sangue ferve, trocam os pés pelas mãos, ficam de cabeça virada, chingam, esbravejam, vivem intensamente essa disputa por ela. Ela desejava que ele não interferisse, mas ela desejava mesmo é que eles não obedecessem a ele. Mas, eles reconhecem o seu poder. Soberano a eles e ela, soberana a todos eles.

Uns serão heróis, outros covardes e alguns serão tão inexpressivos que nada serão. Assim é que se dará esse encontro diante de uma multidão compacta. Há dentro deles, de todos eles um sonho, o mesmo sonho. O sonho de colocá-la na rede. Tudo inicia com um beijo. A chuteira graciosamente encosta seus lábios nos lábios da bola. Então ela está ali entregue, aos pés daquele que fará dela sua amada.

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