sexta-feira, 6 de agosto de 2010

]indignação[




Um mundo totalmente hipnotizado pelo próprio umbigo. Cada qual na sua e todos em nenhuma. Há uma ilha, um tratado de Tordesilhas que diz – não se meta comigo, não fale comigo, tome conta do seu próprio nariz e ouça, há de ter cuidado até com os conhecidos.

Na churrasqueira de tantos quantos possa se contar assa-se revistas. Ninguém tem tempo para visitar ninguém e quem quer que virá.

Corre pelas ruas que o ter vale mais que o ser. Um individualismo que nos cega a ponto de não notarmos que os vizinhos do lado estão separados. Surpreendente, os vizinhos ao lado estão voltaram. O rapaz que apareceu entregando o jornal era mais pardo.

As coisas estão indo. Todas aquelas coisas que eram bonitas. A escolha de um namorado pelo amor, a escolha de uma profissão pelo amor, as escolhas por amor. O amor está indo. As pessoas se cansam com muita rapidez. O amor é oxigênio. Falta oxigênio em cada um e isso espirra no geral: falta amor em todo mundo. Faltam árvores dentro de nós.

Todos com medo de todos. Mesmo sem sermos seqüestrados, o seqüestro já está feito. O sol desponta pela janela, mas ninguém mais abre as janelas temendo as balas perdidas. Não damos mais conta, a conta passou dos limites. O que dizer para menina de 15 anos e o outro que em maio faz nove? Eles têm tantos sonhos, querem ir para o mar e abrir suas velas. Mas e o barco? Onde está o barco e a nossa ingenuidade tão singela? Como navegarão no mar?

Geograficamente estamos aqui, mas na verdade não sabemos qual é a nossa posição no mapa. Nem na mesa. Na roda. Nem mesmo na discussão. Foram tantas viagens e há tantas lembranças sobre a mesa. Mas o que realmente buscava continua perdido. As bandeiras aos frangalhos, os ensinamentos em farrapos, os lírios murchando. Acabou a água do vaso, mas as rosas não são as únicas que estão morrendo.

Se a luz dos olhos teus se apagarem vai restar o que? Essa luz que ascende quando vê um bebê nascendo, essa luz que se ascende quando vê um ato de misericórdia, essa luz que se ascende quando vê o menino fazendo teatro, essa luz que ascende quando vê os cachorros brincando, essa luz que ascende a minha pessoa, a minha primeira pessoa. Temos que encontrar nossa primeira pessoa, antes que a vida fique de terceira.

Só sei que o modelo robótico não é o que domina, porque mesmo o sol se indo logo, vem a lua e tudo está bem para o nosso bem. Os cavalos estão aí e devemos montá-los. Temos que parar de fazer fumaça que apenas polui. É preciso enviar sinais de paz.

Importa-me seu carinho, seu afeto, seu querer. Eu não vejo como alternativa pintar esse muro caiado de sombra, se o seu olhar insistir em chorar tristezas ao invés de felicidades. As alternativas diminuirão ainda mais, porque as alternativas não saõ geração espontânea. Fizemos um olho mágico para guardar nossa privacidade, não adiantou. Fizemos um porteiro 24 horas para resguardar nossa privacidade, não adiantou. Deixe que perguntem, invadam, constranjam. Deixe que virem do avesso, que comentem, se metam, que tirem as cortinas. Com certeza será uma tempestade de fogo. Uma carruagem de fogo. Não é bom rebocar o essencial. Se não tudo pode se transformar só em massa corrida.

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