quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

[altar]

Queria se casar com ela. Usar a mesma pasta de dente, dividir a escova, secar-se na mesma toalha. Queria partir com ela para a mesma casa. Ouvir seus sonhos, dormir com seus pesadelos e pela manhã, vê-la maquiando os olhos que escolheu para amar.


O vento tem composto a vida dele de ausência. A cama era só cama dele, a casa grande era solitária e as viagens ele compartilhava com as aeromoças, trocava idéias com os recepcionistas de hotéis e a pele era uma rosa desfolhada. Não se embriagava, mas seria melhor. Não contratava prostitutas, mas seria melhor. Não se lamentava, mas seria melhor.

Naquele dia em que eles se encontraram, ela não levou nada daquilo muito a sério. A primeira impressão que teve dele foi de um homem muito disputado, um sucesso nas palavras e um doce que poderia ser dela, mas estaria sempre no balcão da padaria para quem mais desejasse. Não deveria se iludir com esses pequenos galanteios, não que os dele fossem do tipo encomendados ou frases prontas, muito pelo contrário, eram originais e lhe faziam sentir calor. Mas esse calor já tinha lhe dado, numa idade pouco mais que adolescente, um filho lindo. Agora era mulher e mais que uma paixão imensa, uma música na memória, um canto de recordação e velas, e declarações, merecia não ser mais dilacerada.

Entregou a vida para os arredores de Oxum. Andou em guerra com a justiça de Xango e brigou com os mares de Yemanjá. Cravou a espada de Yansã em seu coração para impressionar os deuses. Roubou o cavalo de Ogum para galopar dentro dos sonhos dela.

Naquele sábado de sol que está com a razão e que queima nossos males que nem se sabe onde se apronta, ele se apaixonava com crianças entre 8 a 10 anos, ensinando elas a plantarem essas coisas tipo alface, temperinho verde ou outras plantas medicinais, destas que tem substâncias terapêuticas como a abobora, agrião, alecrim. Ela veio de lá e encostou seu corpo bem juntinho do dele naquele altar. Momentaneamente ele se assustou, mas em seguida deixou que o calor tomasse conta do frio. Ela lhe disse que nunca tinha lhe falado que gostava de crianças. Ele lhe respondeu que ela nunca tinha lhe dado oportunidade.

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