terça-feira, 28 de dezembro de 2010

[ao leite]

O chocolate é como o amor, estimula o hipotálamo, induzindo sensações prazerosas e elevando o nível de serotonina. Mas não é apenas isso, o chocolate é como o amor, porque no verão fica mais derretido e no inverno os dentes mais frágeis se acovardam em mordê-lo.
As amadas passam na rua sorridente, os homens mal amados nunca passam do segundo copo sem se embriagarem. Mulheres a noite, quando a cama de casal mesmo confortável , fica desconfortável, vão na cozinha e na segunda prateleira se encontram com seu amor secreto. Os homens solitários sempre têm bombons para oferecerem. Seu amor é como gangorra em praça, um brinquedo que só tem graça quando feito a dois.
Quando inicia, taças de vinho derramadas mancham o tapete branco da sala. Quando acaba, o sol se despede da lua, o doce agora se transforma em despedida. Os grãos de cacau torrados sem adição de leite. O amargo de ir embora. O amargo sem passaporte. Há o amor amargo, sem adição de carinhos e fragmentos que se espalham pelo espelho de desconhecidos. O amor pode ser uma barra de chocolate amargo.
Um amor recheado de sonhos. Um amor que se inicia ali na varanda e vai até nós dois de mãos dadas e bem velhinhos. Um amor que surpreenda, que leia poemas para dormir, que faça o café para amanhecer. Um amor lindo de jeans, um amor lindo de prataporter, um amor de linho. Um amor que converse sobre ter filhos, sobre os filhos, sobre não ter filhos. Um amor que tenha sexo, mas tenha diálogo. Que tenha religião, fé um no outro. Chocolate por dentro com amêndoa ou avelã, cereja ou amoras, morango ou frutas silvestres, licores. Um amor com recheio : venha e me faça feliz, venha e te farei feliz.
A couverture é o chocolate rico em manteiga de cacau, utilizados pelos profissionais chocolateiros. Gueixa são mulheres que estudam a tradição milenar da arte da sedução, dança e canto. As estrelas como lençol e a rede. Os bibs e aquele instante silencioso eterno após o primeiro beijo. Abra a janela ao invés de acender a luz. Veja ao invés de fotografar. Coloque os pés na grama e descanse os sapatos. O que vai para a escola é a mente e não o coração.
Tabletes, gotas e barras. Um amor ao leite que seja deleite. Convencional e até mesmo tão igual a tantos iguais. Até marcado com o gosto do hábito, mas com o deleite de ver que irá viajar, mas me levará no cheiro de suas roupas. Deleite de passar os dedos nos lábios e os lábios em deleite guardará os dedos no céu – da boca. Deleite pelo amor confesso no cotidiano de fazer planos. Planos de quem lavará a louça do jantar, de quem fará o café e a salada, de quem deixará as crianças no colégio, do apartamento para poderem casar sem papel passado, da conta de água e da de luz, da escova de dente, das toalhas xadrezes ou lisas. Deleite e ao leite do amor que sofre barras, gotas de lágrimas e algumas vezes quase se esfrangalha em tabletes, mas como num milagre o que era dor, basta um abraço forte, verdadeiro, carinhoso e para o amor mais uma vez ser amor.
A páscoa e suas cestas que são ninhos recheados de amor com chocolate ou chocolate com amor. Margarita disse enquanto tomava café que os coelhos são cupidos. Ainda existe gente que se apaixona.

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