domingo, 13 de março de 2011

[teia]

Já não tinha o corpo de sua meninice. Mas mesmo com a reprovação das colegas teimava em usar calças justas e tops que deixavam os seios sobressalentes. Pela manhã seu trabalho era varrer a calçada da frente da banca de revistas.


Achava o dono um sujeito meio porco. Mais honestamente achava-o um depravado. As revistas infantis do tipo Zé Carioca, Tio Patinhas, ficavam menos a vista que aquelas de mulheres nuas estampando suas partes intimas. Várias vezes tinha reclamado para ele e ele apenas balançava a cabeça tipo respondendo – faço o que posso, vendo o que querem.

Estava doente aquela manhã. Doente de ressaca. Bebeu com o mesmo cafajeste. Dançou e acabou na cama. Ele fez juras e às sete horas da manhã ela estava novamente com sua vassoura varrendo a calçada da banca de revista, obrigada a ver aquelas mulheres nuas que lhe davam ciúmes, tomando qualquer coisa para dor de cabeça que dilacerava sua solidão.

Passaram meses e quando não suportou mais e retornou a gafieira, o malandro tinha outra. Mas quando a viu entrar e lá de longe avistou a aranha que levava no braço. Não precisaram muito para estar novamente naquela teia.

Nenhum comentário:

Postar um comentário