quinta-feira, 11 de março de 2010

Fluxo.


Há o tempo disso e o tempo daquilo. Assim funciona a natureza. Assim também deveria funcionar o Ser Humano.


Ao plantar uma muda de inverno no verão, ela não sobreviverá, a história contada ao contrário também é verdadeira. Achamos que somos superiores a essas coisas. Não somos. Está provado que não somos. Porque pensamos, porque temos inteligência, porque agimos com livre arbítrio imaginamos que podemos estar acima dessa ordem dos que não falam, dos que estão plantados a terra, dos que voam, dos que caminham sobre quatro pés. Não podemos. A ordem é sempre maior do que nós. Porque essa ordem serve para todos.

A doença trás a sabedoria, infelizmente, porque a alegria trás muito mais sabedoria. Mas, insistimos em ter que renascer pela dor, na sabedoria que a dor nos proporciona. Caímos porque perdemos para a nossa e toda outra natureza. Caímos em depressão, em frustração, em obsessões.

- “ Nada grave, o fulaninho está tomando Ritalina, agora sua mente consegue se concentrar”. Precisava? Não precisava nada disso. É que nossas mentes não toleram ter que ter paciência, ter que perceber que nada acontece fora de época, ter que aceitar sua impotência sobre uma potente e misteriosa força que nos dobra.

Nessa vida tem época pra tudo. Tem época para os acasalamentos, as migrações, dar cria, atacar, vencer e perder. Minha amiga insiste em querer ter filhos, seu tempo, sua época foi lá atrás quando dizia a sua natureza que deveria antes enriquecer, que deveria antes se formar, que deveria antes ter um amor que lhe desse segurança. Agora a natureza não quer lhe dar filhos e quando a natureza não quer, não adianta espernear.

Eles estão bebendo alguma coisa no bar e fazendo suas profecias. Quando levantarem estarão embriagados. Errado. Estão embriagados desde muito antes. Desde quando pensavam que estavam sãos e acreditavam que para a natureza existe tempo futuro. A natureza não vive vários tempos, não tem várias caras, não levanta bi-polar. É uma ilusão de estado pensar assim. Um estado que nos joga para fora da vida. A natureza tem apenas um fluxo, uma direção, um vetor, uma linha. A natureza é sábia, sempre está no tempo presente. Pessoas vão para que outras entrem. Pessoas vêm para que outras saiam.

Planos disso, planos daquilo, planos acolá. Empurrar com a barriga. Vou lá semana que vem, serei assim daqui para diante, ligarei, pensarei, realizarei, estancarei. O futuro não é um verbo conjugado na natureza, por isso que reencarnação aqui passa batido, também é um olhar depois e não do agora. Como não é conjugado o que ficou para trás, o que está coberto de poeira, o que amarelou, embolorou, alimentou as traças. Também é um olhar para fora e não para agora.

Eles jogam par e impar, pois os dois estão com preguiça de ir buscar a bebida no refrigerador. Querem se manter parados. Queremos sempre nos manter parados. Mas, não dura. Nada chega quando estamos sem ir. E quando nada mais nos basta, então a solidão nos invade. Aí ela não perdoa. A solidão nunca perdoa. Ela sempre nos encerra.

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