quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Vírgula.


Dois segundos podem não representar nada para quem o despertador acabou de tocar. Para o nadador pode ser o tempo entre infelizmente não deu e a conquista. O limite é engraçado. Ele dá risadas de nossas afobações e perdoar parece não ser o seu verbo predileto. A calça um número a menos que não entra, não perdoa. Os pés dentro dos sapatos apertados, não perdoam. A cama de casal enorme que não passa pela porta do novo apartamento minúsculo, não perdoa. A distância, não perdoa.


Temos passado uma eternidade desenhando nossos triângulos, nossos quadrados, levantando cercas por aqui, privatizando sentimentos por ali, contendo aquele sorriso, levando para casa aquele gosto de limão pela azeda resposta que ficou trancada na garganta. Tudo porque é preciso envelopar, reservar-se, dar um tempo, contar até 10. Será que o tempo esteve na nossa mesma escola e aprendeu essa matemática do amanhã eu faço?


E se pudéssemos fazer tudo? Tomar a bebedeira e não ter ressaca. Passar na frente da luz e não ser multado por velocidade. Deitar-se na rede do vizinho e ainda tomar o sol exclusivamente para nós. Chupar o sangue e revelar-se como vampiro de água benta. O limite está na beleza, ou faz a beleza, ou é a beleza.


A beleza é vírgula porque carrega a textura do recriar, reinventar, reescrever. Não é reticência porque se não envelheceria. Estaria com aqueles olhos reticentes, enrugados pelo tempo que não fez. E a beleza não envelhece, sem limites, ela tem a propriedade interminável de ganhar outros desenhos. Naquela manhã Beatriz soltou os cabelos e voou. Foi pintar sua casa nova.

Um comentário:

  1. As vírgulas são preciso... a pausa...reescrever
    a história... com um outro olhar...num contínuo fluxo da vida...e sua beleza infinita...

    Morrer é uma dessas vírgulas...tudo recomeça em algum lugar...

    Apaixonante,San...adoro te sentir através das palavras...

    Um beijo azul sem vírgulas...rs
    blue

    ResponderExcluir