quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

mOSquiTO.

Gostava de olhar por dentro das saias. Desde pequeno já tinha o mal hábito de dar beliscões nas bundas da mãe e das irmãs. Quando o espelho retratava um rosto repleto de espinhas, foi o tempo em que criava mil estratégias para poder entrar silenciosamente no quarto da irmã. Divertia-se vendo as amigas dela.


Amadureceu e os péssimos hábitos lhe acompanharam. Deixava picadas em suas namoradas propositadamente, voava de bar em bar atrás de qualquer coisa mais doce que um copo de cerveja, pousava sua mão mesmo sobre o ombro de desconhecidas. No futebol, que futebol, ficava zunindo o primeiro ouvido que lhe desse trela.


Certa noite a morte lhe visitou. Ela sentou sossegadamente ao seu lado e disse que tinha chegado a sua hora. Ele perguntou a ela se tinha certeza. Ela olhou novamente em seu fichário. Confirmava lá o nome: Onório Dutra. Onório Dutra é você. Devemos ir, pois o diabo não tarda a raiar. Em uma contra proposta perguntou para a Morte? A Morte nunca foi lá muito regrada, exata, pontual. Para alguns chegava cedo demais, para outros perdia as contas.

Sou toda ouvidos, respondeu a dama vestida num belo e prateado vestido de noite. E se me transforma-se em outra coisa, confidenciou Onófrio.

Na manhã do dia 7 de julho, as 10 horas da manhã, uma centena de viúvas se batiam para deixar a última lágrima e um cravo branco para Onófrio Dutra. Todos que estiveram no enterro não puderam deixar de reparar um mosquito infernal que acompanhava o cortejo. O mais admirável é que o tal inceto era enxotado dentro de seios, embaixo de saias, em volta de pescoços femininos. O mosquito só sossegou quando encontrou uns belos lábios carnudos que pousou e por ali ficou.

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