terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Passageiro.


Podemos pensar que eterno seja o mesmo que pra sempre. Podemos nos iludir que algumas coisas são eternas e desejamos quase com a nossa morte que durem infinitamente. Há várias coisas que se eternizam dentro de nós e nem mesmo nos damos conta. Lá um dia, elas aparecem como um raio de luz, e não foram para sempre. E há várias outras que acabam sendo pra sempre e nunca se tornaram eternas dentro de nós.


Tem o primeiro beijo que nem sempre é eterno, mas tem um beijo que é registro. Tem os passos que damos em rumo há um novo emprego que pode ser pra sempre, mas eterno mesmo é quando vemos nossos filhos andando pela primeira vez. Tem a primeira professora que é eterna. Tem o amor que é eterno. E tem os vários outros amores que vamos sentindo que deixam apenas a digital ou que guardam seu autógrafo no nosso coração. Depois tem tantas outras coisas eternas lá dentro que, só saem pra fora, quando nos damos chance de mergulhar no que há de melhor em nós: a primeira medalha, o chá trazido pela mãe quando a febre apertava o ponteiro do termômetro, o filme do Durango Kid, as bananeiras do quintal, os soldadinhos, as bonecas, ir ao trabalho do pai quando estávamos de férias. A volta de quem amamos, a ida ao encontro de quem amamos. A rodoviária, o aeroporto, o carro.

Somos angustiados para dominar o tempo. O tempo de ter que trabalhar, o tempo de ter que se divertir, o tempo de ter que ir comprar, o tempo de ter que tirar dinheiro, o tempo de ter que estudar, o tempo de ter que dormir, o tempo de ter que estar acordado... O tempo da vida. Esquecemos que o melhor tempo é o tempo de agora. Diferente do tempo de ontem, do tempo de hoje e do tempo de amanhã.

O amor que não tenta dominar é sempre passageiro, porque sabe que o amor tem lá suas manias de nunca ser igual ao que foi um dia.

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