quarta-feira, 7 de abril de 2010

[amor platônico I]

Todo amor platônico é um amor que freqüenta o imaginário, aloja-se no imaginário, vive o não ir, indo do imaginário. O Amor Platônico é sempre uma relação de um e não de dois. Um que, dorme e acorda sempre só, com seus sonhos. Existe o desejo, existe a paixão, existe a falta, só não existe o comprometimento e o encontro, onde se dá a realização, ou como uma amiga minha gosta de dizer “a real-ação”.


As relações virtuais são platônicas. Por mais que vejamos fotos, conversamos com aquela pessoa através sabe-se lá por onde, tenhamos noção do seu peso, das cores dos seus olhos, da sua altura, mesmo assim ela não ultrapassa a esfera do imaginário, é sempre lúdica, inexistente, ausente. Também é sempre mais fácil, mesmo que sofrido, pois não se trata de material tocável, palpável, tangível. Esse ser é o que pensamos que seja, permanece sendo a nossa afirmação, é argila que modelo como bem me convém. Veja Lílian e Alberto, os dois se implicam, trocam desaforos, fazem criticas um a roupa do outro, ao cabelo, até mesmo cuidam quando um exagera mais na comida. Mas Lílian e Alberto também compartilham o sorvete em dia de sol e se lambuzam, deitam e fazem sexo e amor, estendem-se horas por horas na areia da praia e desenham corações com seus nomes dentro deles, vão ao cinema e fazem fundue quando está muito frio. Beijam-se, abraçam-se e se tocam. O real tem resposta, cheiro, tato, olfato. O real tem dias bons e dias ruins.

A vida ficou estancada foi o que falou, quando relatava do poço, poço seco que estava se tornando com aquela saudade: - Eles se amavam. Tinham prazer um com o outro, tornaram-se companheiros, ouviam música, mas aquela saudade permanece, saudade de que se quisessem. Não eram amigos? Não queria ser só amigo dela. Mas, a amizade não é tudo o que o amor aguarda?

Permanecer no sonho é permanecer mais um pouco de baixo dos lençóis. Permanecer no sonho é virar para o lado, fingir que não é com a gente, fazer que esteja dormindo. Permanecer no sonho é jogar tudo pra cima. O Amor Platônico teme que o real possa matar o sonho. Então ele dá um tapinha no relógio e permanece dormindo.

3 comentários:

  1. Analisando sob uma outra ótica, o amor platônico nos ensina a amar sem exigir nada em troca,sem cobranças, sem mazelas é o verdadeiro amor incondicional.E não é por ser platônico que seria cego, ou ilusório, pode-se conhecer muito bem a pessoa desejada, sonhar com ela a ainda assim preferir que continue platônico...Talvez seja covarde!

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  2. Oi, Sander! Não me conheces, mas já me sinto algo conhecedora do que decidiste revelar de tua alma inquieta e, te parafraseando, linda!

    Que bom que pessoas como você existem, que ligam mundos e traduzem para nós, os que optaram por fechar os ângulos e erguer paredes, como é e como deveria ser a vida ao ar livre.

    E se real e imaginário podem se tocar, somente o podem fazer pelas mãos de magos da palavra. E o verbo é tudo.

    Parabéns pelo teu blog, serei seguidora.

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  3. temos pensado na vida não como algo certo ou errado, maiúscula ou minúscula, mais ou menos, mas um espaço de sentimentos. Nesse sentido algumas histórias que vão caminhando no blog são reais, outras reais_imaginárias e as que ouvi e traduzi da forma que me parecia mais verdadeiro. Fico feliz que tenha gostado. Sempre sinta-se em casa.
    [com carinho]

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