segunda-feira, 26 de abril de 2010

[bambus]


Os vazios. Quantos vazios. Ela me interroga querendo saber se o filho é drogado? Porque não me interroga a razão do filho estar vazio?
Antes. Bem antes de toda essa parafernália de termos que correr atrás se sabe lá do que. De termos que investir em segurança, em mais e cada vez mais conforto, de termos que correr atrás e correr atrás, e correr atrás, tenho a sensação que corríamos mais atrás de nós mesmos.

Bambus e ocos. Frágeis e dobráveis. Multidões e mais multidões andam mais solitárias. Solitários e mais solitários andam no meio de multidões. Insistimos em acreditar que podemos trocar objetos por sentimentos, que presente é caixa de papelão.

Para onde será que irão os objetos? Os badulaques, as quinquilharias, os tênis de marca, o game boy, a tela de cristal líquido, a jóia, a prancha de surf último modelo, a chuteira do astro, a piscina, os quatro banheiros na casa de 25 cômodos? Muitos destes utensílios me parecem que tem parado nas mãos dos terapeutas. A sociedade das coisas como sofre do possuir.

Sempre se teve síndromes, muitas nem tínhamos conhecimento, mas repare que os consultórios nos dias de hoje estão cada vez mais lotados. Desde hiperatividade até casos bem sérios de esquizofrenia. Como dói ter e não se conseguir ser.

Antes. Bem antes de toda essa parafernália lembro-me que sentávamos nos trilhos do trem para ouvir seu apito, passeávamos de balsa, éramos levados ao cinema, nos ensinavam a jogar bola, a nadar, sentávamos para brincar de 3 Maria. A moça não tomava remédio para dormir. Dormíamos com e como os anjos. Confesso: não me lembro tão bem. Algumas dessas coisas sorri para elas em fotos.

Tinham as comidinha de boneca e as casinhas no fundo do quintal. E os bilhetinhos de amor, e as rosas, e os bombons, e o sorvete, e o passar bronzeador, e quando chovia: abraçávamos. Ficávamos embaixo dos lençóis a espera que mamãe trouxesse chocolate quente.

Inventaram escolinha para tudo. O quarto e o computador, uma babá implacável para pais sem fôlego depois de 8 horas enfadonhas de um trabalho enfadonho. O romantismo nessa tal hiper-modernidade foi engavetado. Todo mundo quer, mas todo mundo tem vergonha de querer. Bebe-se e bebe-se para que frases de amor possam subir do coração até a porta da língua. Mesmo com caixas de email abarrotadas de mensagens falando de amizade, ternura, afeto e carinho, nós continuamos vazios. Continuamos silenciosos.

O mais complexo para minha amiga não é que o filho dela possa estar metido com drogas. O mais complexo para minha amiga é se aproximar desse vazio, desse filho vazio. Aproximar-se não como falta de um ou de outro, mas os dois tendo à grande chance da vida deles de uma perspectiva de caminhar juntos e descobrir o que acontece lá nesse espaço que espera.

Chegar perto, bem perto. Onde dois possam se tornar um e cada um não se perca dentro do outro. Não dar amor porque amor não se dá. Estar em amor. Antes muito antes de toda essa parafernália nossos pais cantavam canções de ninar e isso nos fazia cheios de alegria.

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