segunda-feira, 26 de abril de 2010

[caminho]

É uma pena que sempre descobrimos as coisas quando já estamos no meio do caminho.


O corre-corre é tão grande. A angústia em ter é tão possessiva que estamos valorizando mais o tamanho das casas do que o tamanho dos seres que as ocupam. Estamos cada vez mais pobres. Estou certo disso.

Lembre-se que éramos mais românticos. Comíamos mais sorvete e colocávamos pipocas um na boca do outro. A vaca foi pro brejo. Isso tudo engorda, tem muita caloria. Estamos empobrecendo. Estamos pobres de prazer.

Cadê o prazer de uma boa conversa? Cadê o prazer de nos conhecermos? Cadê o prazer em trocar, em pedir, em receber, em ser amável? Ninguém é mais amável. Estou certo disso.

É fantástico como estamos pobres. Pobres para perceber que o outro nos quer. Pobres para perceber que estamos com medo de tudo. Pobres para tolerar que fizemos esta grande confusão e não queremos arrumar o quarto. Que tolice é isso tudo. Pessoas sendo mais bem tratadas porque tem dinheiro. Jovens que escolhem profissões porque dá dinheiro. Meninas que se expõem nuas para ter dinheiro no futuro. Realmente. É uma lógica meio cachorra. Talvez tenha sido sempre assim, mas está aumentando e tudo que aumenta chega uma hora que... Estoura.

Não me venha perguntar meu sobrenome e a família que descendo. Descendo da espécie que ainda acredita que vizinhos devem alcançar uma xícara de açúcar um para o outro. Sou daquele lado do mundo que chora no cinema. Fecho os olhos quando beijo e quando abro quero saber qual o tipo de compromisso teremos. Como um sonhador, eu ainda creio que as mulheres grávidas são as mais lindas do mundo.

Realmente esse mundo está muito violento. É violento ver gente safada na TV falando de ética e princípios. É violento acreditar que tem gente que não passou da graduação e dá uma de doutor. É violento também ver tanta preocupação com a violência e tão pouca com a fome, com o abandono, com a miséria, com a saúde. Somos todos muito violentos. Estou certo disso.

Seria bom para nós, sem excluir ninguém. Seria bom que entendêssemos que temos que ser mais misericordiosos, mais religiosos na acepção da palavra, mais sentimentais, antes que nos ensinem isso na marra.

A diferença está no sentido. Todos os dias há uma tragédia. Quando ela não vem do exterior vem do interior. É uma sociedade impregnada de câncer, de depressão, paraplégica... Doenças que queremos curar no shopping, nos bares, nas drogas socialmente aceitas e nas não aceitas. Vamos falar sério que essas doenças só demonstram uma única coisa. Esse monte de concreto, ciência, riqueza e tecnologia não dão proteção ao frágil caminho que tomamos que é o do interesse. Estou certo disso. Estes jogos de interesses estão nos envenenando.

Somos tão inteligentes. Pelo menos pensamos assim. É burrice prosseguir. Vamos parar um pouco e olhar um dentro do olho do outro. Vamos escutar o coração do outro e compartilhar o que está preso no nosso coração. Tenho certeza disso. O amor é querer ver a verdade do ser amado. Esse barulho todo e todos falando ao mesmo tempo, a sensação que eu tenho é que vivemos rodeados de muita gente, mas continuamos sós para enfrentar o dia que não tem sol pela janela.

5 comentários:

  1. Concordo 100%!! Os valores estão se tornando outros...me preocupo com o futuro, já que vejo muitas crianças sendo educadas as avessas!
    bjs

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  2. fico feliz em tê-la por aqui. Seu blog também está muito bonito. Fico torcendo para que as crianças não deixem de ser crianças. Um mundo só de adultos não tem espaço para brincadeiras.

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  3. Queria ter escrito isso. Obrigada por compartilhar conosco!

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  4. Querido amigo,

    Lendo seu texto fiquei mais feliz ainda em ouvir de meu filho hoje a tarde ao voltar da escola: "Mãe, lá na escola é tudo feito de madeira, tecido e lã". Podemos construir uma pista de madeira para os meus carrinhos?"

    E ele ainda não tem 5 anos e está aprendendo a descobrir o mundo pelo olhar natural e não pelos plásticos e sintéticos que nos rodeiam.

    Abraço carinhoso.

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  5. Olá Angelita,
    que bom te ver por aí. Minha amiga, escudeira de tantas lutas, fiel a tantos valores que cada vez só se experimentam no verso. O Ramon é lindo. Pessoas linda por mais novas que sejam sempre têm um pensar belo.

    beijos
    Sander

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