sexta-feira, 10 de setembro de 2010

]corpo de caneta[






Quando menos esperava tocava nela. Trazia seu corpo para junto de seus dedos. Fina, desenhada, elegante, séria até que acariciada.

Não a acordava de madrugada para manterem diálogos, mas em algumas noites isso era inusitado. Nem dormiam.

Sua sabedoria era impressionante. Sempre que requisitada agia ponderadamente, mas se tomada de sobressalto era de grande dificuldade controlar o volume – da voz, do sorriso, da dose menos homeopática sobre o alheio.

Dotada de um físico totalmente gracioso sentia-se bem em cometer pequenos flagelos em sua estima, em sua inteligência, em sua segurança. Estimava em si, ou estimaria que os outros encontrassem nela um espírito caustico. Mas mesmo no auge da sua ironia e acidez, era doce e isso, mesmo que não percebesse tão claramente era o seu trunfo.

Devia deixar a França pela Espanha, ir de trem até Marselha, corresponder-se com Gaudi e beijar-se com Camille Claudel. Não que a sua construção fosse uma desconstrução. É que sempre vivia esse embora-voltar. E isso dava aos seus quadris um expressionismo moderno, mas com curvas do barroco clássico.

Ele juntou-se ao círculo de seus admiradores. Desejava ser mais admirador do que os outros, desta forma também seria admirado por ela. Ficava embaraçado por sua tinta fresca, seu excesso de sentido, de hiper-sensibilidade. Tatuagem, estigma, marca, sinal, seu corpo era um corpo feminino. E essa fêmea era a loucura dele, o seu sanatório, a sua embriaguez. A sua santa endemoninhada perdição.

Isto dela estar lá e ele estar aqui incitava um emaranhado que talvez virasse novelo para uma manta que mantivesse quente para a eternidade aquele bom prato de sopa que tomaram juntos.

Um comentário:

  1. Tão lindos... tão doces... canduras encantadoras, esses escritos fizeram marcas tão macias e acalentadoras.
    Beijo
    D

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