terça-feira, 11 de janeiro de 2011

[assalto]

Há algum tempo vinham levando o humor dela. Quando trocou de casa levaram algumas lágrimas. Quando deu aula no cursinho levaram o amor tão profundo que sentia pela língua portuguesa. Quando deu aquele beijo verdadeiro levaram a sua fidelidade.


Levaram também aquela bicicleta do fundo do quintal e algumas roupas do varal. Mas só se deu conta mesmo que estava sendo roubada quando levaram um pedaço do seu sol, os ramos da velha e irmã laranjeira, o rio que se sentava a ver o por do sol, a sua virgindade que andava pelas calçadas admirando outros seres tão virgens quanto ela. Sentiu-se roubada mesmo quando levaram a sua pureza. Que era aquela escola. Aquele sonho.

Ele disse a ela que tudo está sempre no lugar certo e o universo só conspira ao nosso favor. Que tirasse o mais apaixonante de tudo isso. Então conseguiu após aquele assalto experimentar um pouco de carinho. Porque o ser humano é uma espécie animal tão, mas tão surpreendente que também consegue chorar porque se senti amado.

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