segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

[brincando com a vida]


Não dá para brincar com a vida. As coisas levadas nesse sentido podem virar tipo um palhaço sem platéia. Uma escadaria que não se encontra com Nosso Senhor do Bom Fim. Uma via em direção ao abismo. Aí não há segurança, terço, benzedeira, reza braba que torne esse desencontro em encontro.


Não temos outra vida, é essa que temos. Única, radiante e de faces rosadas para o picadeiro. Outras coisas são suposições. É baralho de cartomante, búzio virado para cima, livro autografado pelo Freud, bíblia de visita a Roma. Verdade? Essa não é a questão, a questão é que devemos tocar mais, nos emocionar mais e deixar um pouco de lado nossos próprios perdões. Deus deve teu uma lista enorme. Se Deus não se enfadonha com tudo isso, então faz de conta que ouve.

Temos nos perdoado por pedir e não agradecer. Temos nos perdoado por ser amados e não amar. Temos nos perdoado por ocupar e não dar espaço. Temos nos perdoado por não ter tempo. Nós temos nos perdoado, mas será que a vida também tem nos perdoado por sermos isso que não se importa muito. Claro que nos preocupamos com o que parece indigesto. Temos nos alimentado muito e tomado chá de boldo. Os pés estão cansados de tanto rococó.

Vamos combinar. Quando me convidares para um vinho vá logo me falando do pão. Quando me chamares para o filme vá logo dizendo quem será o protagonista. Quando disseres vamos a peça vá logo me falando do curativo para esses peitos sangrando. Podemos dormir juntos, mas não faça de conta que nada aconteceu. Podemos sonhar juntos, mas não faça de conta que era ilusão. Podemos envelhecer juntos, mas não diga que era coisa da juventude.

Não brinque com a vida. A vida tem paciência de Jó. Mas castiga com a força de Ulisses.




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