quarta-feira, 29 de julho de 2009

Tributo.


Folhas secas de outono. É isso que o artista se torna quando não sente mais a carícia de quem o admira.

Vestia uma dessas coisas que não sem bem o nome, mas era verde água. Seus olhos e seu corpo tremiam e a cada compaço sua pele sentia dores de prazer. Não estava lá só para cantar, estava lá para que outros cantassem através da sua voz. Não era apenas um ofício, era uma entrega. Um berço, um terço, uma oração.

Tinha uma prosperidade no abdomém, digo isso, porque aprendi com os experts no assunto que os tons não saem pelas cordas vocais, mas é o ar que faz a diferença. Então, a sala pequena, tinha o seu gás. Ou melhor, era safra boa da sua Adega.
Ninguém se denomina de Renata Adégas se não é safra de algo muito bom de se degustar. Sua voz se derramava pelos ouvidos da platéia.

Não. De forma alguma tentou por algum momento incorporar Elis Regina. Durante aquela hora se encontrou com Elis, o que me parece ter sido uma felicidade para ambas.

Porto Alegre é o único lugar que conheço que após assistirmos um show totalmente intimista podemos descer um andar e ir ao supermercado para comprar leite e pão. Isso dá ao ambiente uma atmosfera de Luxus Populi. Ao mesmo tempo que ainda penso nos olhares impressionados, nos namorados aproveitando o romantismos, lembro que no andar de baixo a empregada disse para sua patroa não esquecer o limpa-vidros.

A Renata deve ter ido para casa. Ou essa noite resolveu dormir com seu namorado. Seus olhos se enxeram de lágrimas quando alguém na platéia gritou por seu nome. Meus olhos foram partidários da emoção dela e também resolveram criar poças que desfarçadamente fui obrigado a secar.

O amor está a solta. É só dar uma cordinha e a pipa sai voando. Não vejo razão para sermos solitários. Imagino que há uma questão de endereço errado, do email que nunca vai para caixa postal que espera, do onde, quando, como e porque. Duas pessoas que estivessem uma do lado da outra naquela noite poderiam se beijar sem medo de que aquele beijo fosse uma invasão de privacidade.

Quando a bola está sobre a linha do penalti é sempre mais fácil fazer o gol do que defendê-lo. Quando a lua é cheia sempre é mais fácil falar de paixão do que quando a lua é minguante. Quando a luz é de velas, por incrível que pareça é mais fácil de ver os olhos de quem está diante de nós. Quando sabemos a receita é mais provável que acertemos o bolo. Provavelmente tenhamos que nos colocar a disposição. Talvez não basta apenas um banho de mel para adoçar o coração de quem não chega.

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