quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Paralesia.


Estamos nos escondendo nas gavetas, por detrás das portas, nos mensegers. Estamos nos escondendo dentro das roupas, embaixo dos guarda-chuvas, por fora das vitrines. Alguém acena e não vamos. Alguém sinaliza e não ultrapassamos. Alguém diz que pode e permanecemos estáticos. Estamos nos escondendo em nossas obras póstumas. Idealizamos tudo para podermos nos esconder dentro das nossas idealizações: O príncipe, a musa, Harvard, Bienal. Éramos tão mais felizes quando nada tínhamos a esconder.


Nunca vi uma sociedade tão triste e tão pomposa. Não sei bem se é triste por ser pomposa ou é pomposa por ser triste. As quartas-feiras os sofás estão vazios e as mesas de bares lotadas. As bomboniers estão vazias e os chats hiperlotados. Os lençóis intocáveis e as massoterapeutas sem possibilidade de agendar mais uma sessão. Para que serve um beijo se não para nos colocar em outro mundo. Uma jura de olhos fechados. Uma lã. Uma cura, um chá de hortelã. Jorge guerreiro matando o dragão. Um beijo de olhos fechados. Um beijo para nos tirar do nosso salto alto.


Preferimos o adeus que a responsabilidade. Depois lamentamos. Preferimos o sacrifício que o prazer. Depois não gozamos. Preferimos a segurança do que o risco. Depois vem a cólera. Preferimos a formalidade, as regras da BNT, os códigos genéticos, a diretora científica. Preferimos ser sãos do que a loucura. Depois nos enchemos o saco. Onde tudo ficou triste? Como tudo ficou triste.


É melhor chegar atrasado que perder o fim. Se o carro pifar vá andando, se o email pifar, mande uma carta, se o telefone estiver ocupado, bata na porta. Tem tanta gente desistindo. Sejamos honestos, como temos sido desonestos com nós mesmos.


Estrelas são para mim aquelas que brotam como belas margaridas no céu. Conte-as e contea-as para mim também. É tão bom quando ainda desejamos brincar de bem-me-quer. De mal-me-quer o mundo está cheio. Não quero ser esse que irá transbodar o copo. Sei que você também não será. A sua beleza não é em vão.

2 comentários:

  1. Seja bem, seja mal mas me quer, o pior é quando não se tem o brilho da margarida.
    DK

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  2. Um retrato dessa nossa louca pós-modernidade...
    pós-tudo!Póstumas lembranças da vida ainda quando era vida vivida nas ruas e avenidas...

    Por isso que eu te quero tanto bem...
    Desse copo cheio de mal-me-quer eu não quero beber nem uma gota...

    Texto incrivelmente poético e profundo,
    reflexivo e perfumado da mais rara essência: amor!

    Que espaço mais lindo,meu Sanderzito!!!
    Obrigada por ter aberto as portas de suas ruas e evenidas para mim...

    Mil beijinhos azuis cheios de saudades...
    Blue

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