quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Armazéns [Bienal 2005 - Porto Alegre]


Os armazéns estavam lotados. Ele adorava as coisas que eram coloridas. As coisas coloridas coloriam seus olhos. Seus pés pequenos caminhavam sobre os enormes armazéns. Via-se em outro mundo. Num mundo onde sombras desenhavam enormes homens, sucatas se transformavam em naves, bobinas gigantes pareciam...Não pareciam com nada. Só eram bonitas e surpreendentes porque eram gigantes.

Em nenhum momento deu muita bola para o que era preto e branco, feio, sujo ou triste. Queria entrar várias vezes na casa de pelúcia cor de rosa, queria uma casa de pelúcia azul, porque era cor do seu time. Não fazia questão das lágrimas, ainda não carregava lenço no bolso para secá-las.

Outrora os armazéns do porto tinham servido para armazenar cargas que vinham de longe. Ele olhava o rio e imaginava os navios chegando. Estacionando seus grandes cascos, descendo suas ancôras e seus marinheiros com seus quepes branquinhos como blocos de neve. Estava surpreendido pelos guindastes e seus braços de metais. Queria ser um daqueles que no passado, de dentro das cabines, era o comandante daquele leva e trás.

Muitas mulheres bonitas. Lindas dentro daqueles armazéns. Algumas com sapatos de saltos, outras com seus filhos a tirá-colo, outras ainda dentro de seus jeans que desenhavam suas curvas. Seios que conversavam com as esculturas, ventres que opinavam nas instalações, sorrisos que sorriam para as camisas brancas penduradas, mas que também flertiavam com outros sorrisos. Essas obras de arte ele não viu. Era cedo ainda para ele ver.

Naquela tarde confirmou algo que já sabia e seria a primeira coisa que contaria na escola segunda-feira para sua professora da 1º série. Armazéns são lugares feitos de pessoas que querem tocar em tudo porque tudo dá vontade de levar para casa. Como os da esquina da casa dele cheios de balas e chocolates, carnes e verduras, ou como aquele cheio de sonhos.

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