quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Panacéia


Escondia de ontem algo de hoje. Seus olhos verdes se confundiam com os dos lobos e sua pele falava das noites sem prazer. Queria ser amante, mas sua igreja não permitia. Queria uma aventura, mas preferia a roda gigante, o pacote de pipoca e as amigas que lhe tinham como sacra.

Lina perdia o sono, os lençóis pela manhã tinham o cheiro de sonhos cheios de carícias e olhava pela janela, como se a janela também não guardasse um silêncio próximo a estupidez.

Fazia encontros secretos com livros proibidos que guardava em um armário que só ela tinha a chave. Guardava tudo. As lingeries mais ousadas, os vestidos com decotes que marcavam os seios, os miúdos biquines, um perfume intrigante que acreditava e teria comprado como afrodisíaco. Naquela doença, nas noites quando não tinha ninguém em casa, tornava-se a mulher desejada que desejava ser.

Na manhã seguinte ainda com a ressaca do champagne barato e das cigarrilhas fumadas uma atrás da outra, buscava um remédio para todos os seus males. Em novembro passou a tomar florais de bach que vinham lhe trazer tarde da noite quando toda casa se apagava e apenas uma luz vermelha ficava acesa. Pela manhã ela cantarolava pelo pátio e servia licor para os rasks siberianos, enquanto pendurava uma camisa branca e um jeans, olhando se ninguém a olhava. Algumas vezes Ângelo estranhava a insistência e a preocupação da esposa com as viagens e com os negócios, mas como na sua volta sempre esperava com o seu prato predileto, não a contrariava e saía em viagem.

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