quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Caixas.



Às 16h30min a bolsa estourou. Não acharam o obstetra e o parto foi nanutal mesmo. Fazia muito calor naquele mês de abril. Para uma família de oito, aquela raspa de tacho, era uma pérola.

Belos caixos que balançavam ao vento. Os cabelos cor de mel escureceram, as pequenas mãos que alcançavam milho para os patos amadureceram e logo, sem que as vistas pudessem acompanhar, se tornou uma adoslecente. Devia ter pouco mais de sete anos quando perdeu a mãe. Era julho, talvez não chovesse, mas para eles devia estar chovendo.

Trazia pequenos versos escritos em folhas de papel para o irmão ler. Queria que ouvisse suas histórias. Ele ouvia. Algumas vezes a contragosto, mas mesmo assim as ouvia. Perdeu as contas de quantos verões e primaveras, foram invernos e outonos. Esteve muito só. Nunca disse a ninguém que sofreu, mais tarde reconheceu que sofreu. Nunca disse que rasgou páginas do seu diário, derramou lágrimas no seu travesseiro e deve ter apregoado tantos desaforos a Deus por ter levado sua mãe. Mas Deus não a castigou, quem sabe ele tenha dado razão a ela?

Está na hora de embarcar. Eles Estão todos muito felizes que ela vai para França concluir seu Doutorado, mas mesmo assim estão chorando. Choramos também quando estamos felizes. Na Casa da Dinamarca na França vai guardando suas recordações nas caixas. Nas caixas cinzas coloca as tristes, nas caixas rosas coloca as lembranças de quando o irmão foi buscá-la na primeira reunião dançante, seu primeiro namorado, a formatura. A caixa azul, deixa a tampa aberta, o marido não tarda e chegará do Brasil, essa é a caixa que reservou para os momentos felizes.

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