O Carteiro lhe entregou as mesmas quinze cartas dos últimos
20 anos. O velho Muricildo recebeu da mesma forma - gentilmente ofereceu um
cafezinho para o homem e o homem como de costume disse-lhe que estava ocupado e
que ficava para outra oportunidade. Um fazia ser verdade e outra cúmplice
daquela mentira. O carteiro não via dano algum o velho escrever para si mesmo.
Nas cartas
Muricildo falava das laranjeiras que tinham pego doença nas folhas, da
depressão dos cachorros quando chovia e passavam mais tempo presos, comentava
da visita do mecânico que mais uma vez não resolveu o problema do carburador do
Corcel e até ele se enrubrecia quando tratava das visitas de Filomena para
arrumação da casa, lavação das roupas e outros pequenos afazeres. Cuidava os
joelhos torneados e a boca carnuda da mulher que devia ter tido beleza e
faceirice quando mais nova.
Já ia dando
as costas quando o carteiro anúncio o aparecimento de mais duas
correspondências. Voltou, pegou em suas mãos os envelopes, passou com os olhos
a vista nos remetentes e as rasgou. O carteiro em tom repreensivo, quase
acusatório e culpando de um crime disse que isso era um desaforo. Voltou-se
para o homem magro, estatura mediana e uniforme sempre bem engomado – Não cabe
encontrar o que não quer ser mais achado.
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